sexta-feira, 20 de agosto de 2010

212 anos da Revolta dos Búzios e a luta por igualdade


Por Maykon Santos*

Era manhã de um domingo em Salvador, 12 de agosto de 1798. Pelos costumes da época, as ruas amanheciam cheias. Muitos iam à missa. Escravos tinham seus serviços domésticos para fazer. Libertas vendiam comidas pelas ruas em tabuleiros. Mas não era um domingo qualquer! Em vários pontos da cidade haviam cartazes fixados ou panfletos pelo chão conclamando uma revolta popular contra Portugal e contra a ordem vigente. A audácia era tanto que um panfleto foi colado próximo ao Palácio do próprio governador, D. Fernando José de Portugal.

As metrópoles européias desde a Independência dos Estados Unidos, 1776; a Revolução Francesa, 1789; e a Revolução Haitiana, 1791 se preocupavam com a nova ideologia que vinha ganhando força de igualdade e liberdade que em nada combinavam com o antigo regime colonial e escravista que predominava nas colônias. Por isso, qualquer ação como a feita de noite por inconfidentes (aqueles que não tinham fé no soberano) eram consideradas sedição (crime contra o estado) e deveriam ser exemplarmente punidas. É o processo histórico conhecido como Crise do Antigo Sistema Colonial.

A partir de 1794 um grupo heterogêneo, mas com fortes características populares, incluindo escravos, libertos e alguns membros da elite começaram a se organizar para discutir e entender a nova ideologia de igualdade e liberdade que começava a chegar em Salvador. Os mais conhecidos são Luiz Gonzaga das Virgens, soldado e pardo livre; Lucas Dantas de Amorim Torres, soldado e pardo forro; Manoel Faustino dos Santos Lira, pardo forro e alfaiate; João de Deus do Nascimento, pardo livre e alfaiate. E os irmãos Barata (Cipriano e José Raimundo), membros da elite local.

O cerne das idéias se dão em torno de liberdade, igualdade de direitos e república e tem forte influência iluminista. É difícil saber exatamente qual a plataforma política do movimento, mas é certo que almejavam a Independência da Bahia; o fim do preconceito como marca para eleições e o fim da escravidão.

Entre 12 de agosto a 25 de agosto de 1798 os conjurados planejaram a sublevação, quando foram delatados por espiões e começaram a ser presos. A devassa sobre a revolta condenou os líderes pobres ao enforcamento, foram eles: Luiz Gonzaga das Virgens, Lucas Dantas de Amorim Torres, João de Deus do Nascimento, Manoel Faustino dos Santos Lira. Luiz das Virgens nunca foi achado, os outros três heróis foram enforcados em 08 de novembro de 1799. Outros sete envolvidos na revolta de origem popular foram degredados para a África. Os irmãos Baratas ficaram presos por meses.

Assim, ao comemorarmos 212 anos em que as ruas de Salvador amanheceram com o grito dos que se levantam contra as desigualdades devemos lembrar deste movimento que, sem dúvidas, dos quais almejaram a Independência do Brasil antes que essa acontecesse de forma conservadora em 1822, foi o mais popular! Por isso, carrega uma simbologia de resistência negra aliada a ideias republicanos que são muito inspiradoras! Como dizia um dos panfletos: Animai-vos Povo baiense que está para chegar o tempo feliz da nossa Liberdade!

*Militante do Círculo Palmarino/SP

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