quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A população do Rio já não suporta mais tanto descaso, que vem desde as capitanias hereditárias, do período da escravidão, das primeiras favelas, da humilhação pela família Real ...

Ação pacificadora ou desnudamento da tragédia social?


A pirotecnia promovida pelo governo do Rio de Janeiro, com o apoio do Governo Federal, serviu para demonstrar o quanto os governantes são omissos em relação à falta de uma política habitacional, pois o povo está grudado aos morros, da mesma forma que a exclusão social está grudada aos pobres.

A omissão do poder público e de seus representantes está presente no Rio de janeiro, assim como no mundo inteiro, dentro da lógica da globalização da miséria do sistema capitalista.

Além da falta de infraestrutura, verifica-se também que esses bolsões de miséria representam um verdadeiro contraste com o cartão postal do Rio de Janeiro, que é vendido e cantado em versos e prosas.

Na prática, o poder dominante tenta ofuscar a verdadeira realidade de um Estado que é gerenciador de mão-de-obra barata, estando seus habitantes confinados nos guetos, nos morros, em verdadeiros amontoados humanos.

Essa operação serviu também para desmascarar o Governo do Rio e o Governo Federal que insiste em combater o tráfico com operações de guerra, com o codinome de “ação pacificadora”, enquanto o combate pra valer deveria ter inicio com a urbanização das favelas, com ruas adequadas, serviços públicos e equipamentos disponíveis para as crianças e adolescentes em todas as faixas etárias, melhoria da qualidade de vida, com creches, unidades de saúde, política de emprego e outras possibilidades de valorização efetiva da vida em comunidade.

As operações serviram para denunciar a total omissão dos governantes e também para criminalizar a população pobre e negra, que além das constatações acima relacionadas,contam ainda com a inexistência de uma política de emprego para a juventude, cujo salário, na maioria das vezes é oriundo do tráfico, mesmo sabendo dos riscos e limites físicos da própria existência humana.

O que é pacificar? É reprimir a população para que fiquem quietos, comportados, aceitem a pobreza como tal, embaixo da bota da repressão, pelo menos até os eventos internacionais que virão nos próximos anos?

Na verdade, o governo deveria ter vergonha do contraste social existente no Rio de janeiro, que apesar de ações criminosas e oportunistas de dezenas de traficantes, o abismo de classe entre os que tudo tem e os despossuídos do capitalismo é insofismável.

O povo pobre apesar de tudo isso embala sonhos, desejos e projetos antagônicos aos que hoje se deparam.

Nunca as condições sociais devem ser convertidas em ações policiais, pois o poder repressor por mais que tente, não vai silenciar esse contingente humano compactado nos morros, com deveres demais e direitos básicos de menos, nessa fatídica luta cotidiana pela sobrevivência.

O Estado Leviatã impõe o terror, induzindo o povo a acreditar que a paz se realiza pela imposição da força, da metralhadora, dos fuzis, dos tanques de guerra, de milhares de efetivos das esferas do poder. Enfim, diante de um povo vítima de uma sociedade que os oprime. Essa opressão é a expressão nítida do embate da luta de classe.

A falta de divisão de renda produzida, além da falta de equipamentos para o estabelecimento de políticas públicas para se alcançar os propósitos pedagógicos,a ausência de infra-estrutura adequada, de saneamento básico e política habitacional preventiva, expõe os moradores a freqüentes tragédias que ocorrem, a exemplo dos desmoronamento dos morros e mortes precoce.

Aliás, os grandes traficantes não se escondem tão somente nos morros, mas também nas fazendas e arranha-céu, pois os grandes traficantes mafiosos, ladrões e corruptos estão macumunados com o poder político,portanto, distantes geograficamente desse epicentro trágico da matança cotidiana dos pobres, negros e miseráveis excluídos da acumulação do capital .

A população do Rio já não suporta mais tanto descaso, que vem desde as capitanias hereditárias, do período da escravidão, das primeiras favelas, da humilhação pela família Real que expulsou os moradores de suas casas para alocar o enorme contingente de invasores da metrópole, além da guerra civil cotidiana como se verifica nos filmes, A Cidade de Deus e outros.

Mais uma vez, para cumprir compromissos com os lucrativos negócios que envolvem a copa do mundo em 2014 e jogos olímpicos em 2016, praticam a faxina étnica como política de Estado para se adequar ao cumprimento de protocolos de interesses eminentemente econômicos.

Nessas ações, via de regra eles adentram as casas das pessoas simples para extorquir, roubar, ameaçar, julgar e até matam inocentes sob o pretexto de combater o tráfico, usando a mesma moeda da delinqüência que por si só nada muda nem transforma a vida efetiva do povo pobre.

A indústria da drogas, da violência e a concentração do capital andam de mãos dadas e agride o mesmo ator social, pois muitas vezes estão protegidos pelo poder político a serviço da dominação e perpetuação da relação de força na sociedade humana.

Como vertente do poder paralelo, além dos traficantes, as milícias dominam e aterrorizam a população pobre e pessoas de bem, que além de matar e ameaçar de morte as autoridades que ousam denunciá-los, como ocorreu com a Juíza Patrícia Acioli, morta por fardados , atualmente está listado para morrer o deputado Estadual Marcelo Freixo do Psol do Rio de janeiro e outros .

O cordão de segurança previamente planejado para dar visibilidade aos turistas nos próximos anos, tenta mascarar ainda mais a tragédia social existente por trás das grandes e majestosas construções.

Conclamamos a população pobre do Rio de janeiro e do Brasil, os movimentos sindicais e a esquerda conseqüente para que possamos politizar esse processo, construir um programa popular, operário e estudantil para por fim a esse estado de opressão para com a população pobre brasileira.



Aldo Santos: militante sindical, coordenador da corrente política TLS, Presidente da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo, membro do coletivo nacional de filosofia e da executiva nacional do Psol.

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