segunda-feira, 2 de abril de 2012

Já faz quase uma década que me percebi socialista...

"Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros." (Che Guevara).

Já faz quase uma década que me percebi socialista, desde o ensino médio, nos debates na sala de aula, acompanhados de muitos outros amigos que me ensinaram, me apoiaram e me incentivaram a batalhar, cada dia mais, em busca de um lugar mais igualitário pra se viver.

Muitas vezes incompreendido, reprimido, boicotado por professores e por diretores de escola pública, sempre com uma marca na testa, um “x”, igual aqueles bandidos do faroeste: “procura-se”.
Não é fácil romper a lógica do conformismo, debruçar-se nas lamúrias de um sistema educacional ineficiente e falido, que cria mão-de-obra barata pra ser explorada no comércio, no campo ou nas indústrias.

Essa é a realidade em que eu vivi. Amigos considerados notáveis, hoje são encontrados prestando os piores serviços, como empregado ganhando salários de fome que mal dá pra manter sua própria família. Assim, criam-se meros trabalhadores, e não pensadores. Isso interessa para o sistema. E não me sinto honrado, ao contrário, tenho extrema tristeza por saber que nem 5% dos colegas que tive na escola conseguiram cursar uma faculdade.

Dentro dessas inconformidades que me enebriavam, surgiu alguém para canalizar o discurso, direcionar a ideologia, o qual hoje é meu amigo pessoal, daqueles de tomar cerveja juntos, e, mesmo quase oito anos após ter sido seu aluno, ainda lutamos juntos pelo mesmo intento, na mesma trincheira: Professor Geraldo César, qual devo muito do que hoje sou ideologicamente.

Ademais, logo veio a faculdade de direito e a sua fábrica de formar conservadores, resultado: outras discordâncias, debates e discussões. Era eu mais uma vez rompendo a lógica, estando onde não podia estar.

O curso me aproximou ainda mais das questões sociais, além de amizades que adquiri fora do meio universitário, com ferrenhos militantes do PSOL atual como a Professora Carla, o Filósofo Gilson e o próprio Professor Geraldo, além de outros iguais, quais se viram na nossa luta (Vitor Oliveira, Tchelo Henrique, Diego Barros, Dri Trípoli, Eduardo Codorna Prando, entre outros), quebramos a ordem dessa pacata cidade interiorana, conservadora por si só, resultado: Processo-Crime, perseguição e discussões.


Mas isso não serviu de desânimo, ao contrário me mostrou que cada dia estava trilhando o caminho correto, o caminho ideológico. Aí, participação no 1º de maio da praça da sé mobilizado pela frente de esquerda, realização de abaixo assinado em prol do limite da aquisição da propriedade rural, formulação do DCE do IIES (ainda em construção), apoio a lutas municipais como o MST, panfletagens etc.

Nesse contexto, acabei sendo chamado pra participar de um programa de debates na rádio difusora transamérica, onde fazia semanalmente inserções discutindo assuntos de relevância, como aborto, criminalização de movimentos sociais, descriminalização da maconha, casamento entre homossexuais e inúmeros outros, quais me renderam notoriedade para participar do principal programa da emissora, sempre debatendo sobre política e mostrando a realidade dos mais humildes, por deveras subjulgados em prol desse sistema segregador que vivemos.

E numa dessas participações conheci um senhor franzino de apelido “Dudu”, simples por natureza, qual andava com um caderninho e uma sacola cheia de livros de esquerda. O tal “Dudu” na verdade era o Eduardo Cupervino, militante histórico que ajudou a fundar o PT no ABC e conhecia as grandes referências de esquerda do país como Plínio de Arruda Sampaio, Ivan Valente, entre outros.

O tal Dudu era assentado do MST “Carlos Lamarca” situado na divisa entre Itapetininga e Sarapuí, qual tive a honra de desfrutar de sua companhia lá na propriedade que havia sido desapropriada pelo Estado e cedida ao movimento dos sem terra. Pude constatar ainda mais que a Reforma Agrária é medida urgente, o que me motivou a escrever sobre “o acesso a terra como um direito humano fundamental” na monografia do curso de direito.

Debatia horas e horas com uma pessoa tão simples, mas que guardava dentro de si o que há de melhor no ser humano: senso de coletividade. Marcamos muitas conversas sobre conjuntura, em qualquer lugar, em qualquer calçada.
Até que um dia o Dudu me ligou e disse que precisava marcar uma hora comigo.

Combinamos um determinado lugar e o levei até meu escritório na época. Foram cinco horas de debates ideológicos e, pra ser sincero, fiquei meio intrigado do porquê daquela conversa ser tão necessária ao ponto de ser urgente.
No final do diálogo relatei a dificuldade de se fazer política em Itapetininga/SP, historicamente comandada por meia dúzia de famílias que se aproveitam pra enriquecer e dominar cada vez mais os pobres. Mostrei-me debilitado ideologicamente, até que ele veio com a frase que até hoje me arrebata: “Menino, não desiste, não... Faz 40 anos que eu procuro alguém como você. Não desista!”
Não posso negar que aquilo me reanimou, mas fiquei surpreso com a forma como foi dita.

Três dias depois dessa conversa fico sabendo que o “Dudu”, a pessoa mais ideológica que conheci até hoje na vida, grandioso por si, havia falecido por uma complicação de diabetes. Um infarto fulminante.

Chorei como se tivesse morrido um parente próximo, um irmão, um pai, a dor se igualava. Por dias não consegui compreender – como até hoje não consigo – o porquê de ele me ter dito aquelas palavras e pouco depois morrer. Sinto-me órfão dos seus conselhos, mesmo o conhecendo por tão pouco tempo. Foram as horas mais valiosas da minha vida, horas em que ouvi um homem dizer que a terra não é dele, é de todos, em que a solidariedade pulsava nas suas palavras, ao ponto de dizer que qualquer um poderia construir no chão que ele ganhou do Estado, no projeto de Reforma Agrária, e que o dinheiro de fomento que o INCRA queria lhe dar, fora rejeitado sumariamente, pois ele já tinha conseguido o que tanto sonhava: um chão de terra pra plantar, não precisava de dinheiro do governo!
E ele precisava do dinheiro, e muito, morava num casebre, era aposentado com um salário mínimo, mas tinha o que hoje ninguém tem e repito: SENSO DE COLETIVIDADE!

Foi o homem mais digno que conheci e, por ele, eu não poderia abandonar a luta. Não poderia abandonar o que já havia semeado na época do ensino médio.

Nesse contexto, surgiu o PSOL, depois de uma reunião com o Diretório de Angatuba/SP, conheci Aldo Santos, membro da direção executiva do partido e militante histórico de São Bernardo do Campo, tendo sido, inclusive, candidato a vice-governador do Estado pelo partido.

Confabulei a ele que Itapetininga necessitava do PSOL, necessitava de seriedade e compromisso com a classe trabalhadora, com o social, um PSOL para alavancar e ser a voz das minorias.

Ele sempre solícito aceitou meu convite e marcamos a reunião aqui na cidade, onde foi fundada a reorganização do Partido com a formação de uma comissão provisória e, consequentemente, uma direção.

Fui o Coordenador dessa comissão e desde setembro do ano passado venho lutando pra embutir o nome do PSOL na Sociedade Itapetiningana, para que o Partido se situe dentro de uma coletividade de ações não eleitoreiras visando a construção de uma base sólida, de um conglomerado de pessoas participativas e organizadas, nem que para isso eu me privasse de trabalho, estudo e dinheiro. Era por amor. Por isso, descubra o que ama e isso fará toda a diferença.

De lá pra cá, até a data de hoje, 31 de março de 2012, foram várias participações na TVI (99 NET) e Difusora Transamérica, além do jornal correio de Itapetininga, sempre relatando assuntos pouco explorados pela elite dominante e que, sem sombra de dúvidas, contribuiu para que o PSOL seja visto como uma realidade e não apenas como um sonho.

Nessa toada de espírito coletivo, bem como a fundamental ajuda de todos os companheiros que compõe o Partido aqui em Itapetininga (Fernando Henrique dos Santos, Vitor Oliveira, Vitor Gaviões, Geraldo César, Raquel Rocha de Camargo, Vinícius Mori Válio) é que conseguimos fundar o Diretório Municipal, em pleno funcionamento e pronto para qualquer embate ideológico.

E assim – e por derradeiro – nesse singelo contexto de lutas e realidades, graças ao descrédito da política, mesmo muitas vezes abatido com as dúvidas, cobranças, críticas que surgem até do nosso próprio lar, até dos próximos, é que, com muita honra e com muito empenho, presidirei o Psol Diretório Itapetininga pelos próximos dois anos, buscando mostrar uma alternativa razoável a essa podridão que tanto enoja os cidadãos de bem.

Tentaremos - como grupo que somos e de forma democrática como o Partido se apresenta – alicerçar as bases e fortalecer a esperança tão desacreditada de um povo que anseia, berra a altos brados por socorro, por consideração, por comida, por amor.
Obrigado a todos os filiados pela confiança, porque onde tem gente lutando por uma sociedade melhor, pode ter certeza, aí tem PSOL.

Consigne-se que o Diretório se chama, como não podia deixar de ser: Eduardo Cupervino.

Att.

Gustavo Gurgel
Presidente do PSOL de Itapetininga

“Depois de procelosa tempestade,
Sombria noite e sibilante vento,
Traz a noite intensa claridade,
Esperança de porto e salvamento.”
(Camões

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