sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"Professor morre após agressão” (texto de 2011)




25 de novembro, dia de reflexão contra a violência nas escolas.



Embora todos os dias nos deparamos com a temática da violência no interior das unidades escolares, principalmente diante da omissão das autoridades  governamentais,  entendo que  o dia 25 de novembro de cada ano deveria ser dedicado  a reflexão e balanço sobre  a violência institucional, a violência social, os conflitos de classe e os desafios   da educação diante dessa crescente realidade.

Precisamos politizar esse debate, identificar o verdadeiro agressor aos educandos e educadores, estabelecermos uma relação de companheirismo em busca de um mundo justo, fraterno e igualitário, onde o aluno reconheça que o professor é seu amigo “mexeu com ele, mexeu comigo”, da mesma forma que o professor deve também reconhecer que “o aluno é seu amigo, mexeu com ele mexeu comigo”.Portanto, somos aliados  da mesma causa e Classe.

Durante o ano, são frequentes os problemas e conflitos, haja vista que  a escola não é uma ilha apartada da comunidade. Ela expressa parcialmente  e seletivamente o modo de vida da comunidade. É preciso reconhecer que a sociedade mudou, direitos e deveres avançaram, conquistas e direitos  se estabeleceram, ferramentas virtuais  disputam  o imaginário   e a coletivização do conhecimento destronado, ao mesmo tempo em que o educador deve ser o aliado direto   no entendimento  e acolhimento da vida  concreta dos filhos da comunidade rumo a construção de um novo mundo livre de todas as formas de preconceito e opressão, de demarcações e dos atuais  paradigmas da convivência humana.

Essa reflexão tem que ser a cada momento, porém, do ponto de vista  da macro relação para dentro e fora do universo escolar   o dia 25 foi uma data marcante que causou duas vítimas no processo educacional.

De um lado um pai de família, trabalhador, educador, lutador pela vida, e, de outro, um jovem sem educação e noção de limites, reproduzindo certamente a condição de não vida a que foi submetido ao longo de sua pouca existência. Ninguém saiu vencedor nesse embate, nem o agredido, nem o agressor, pois no limite foram vitimas da inoperância do estado burguês que pouco se questiona ou nele se identifica a ira das vítimas cotidianas do sistema.

Não se resolve a violência com mais violência ou aparato de violência. O espaço escolar é o espaço do diálogo, do contraditório e do respeito, uma vez que o grande violento para com o educador e educando são os governantes com os baixos salários, com as salas de aulas superlotadas, com a falta de perspectivas para os jovens brasileiros, com a defasagem das ferramentas educacionais, com a falta de investimento na educação e assim sucessivamente.

Construir um mundo de liberdade não rima com altos muros similares a prisões, já enunciadas em obras como: Vigiar e punir do filósofo francês Michel Foucault, publicado originalmente em 1975 e tida como uma obra que alterou o modo de pensar e fazer política social no mundo ocidental. É um exame dos mecanismos sociais e teóricos que motivaram das grandes mudanças que se produziram nos sistemas penais ocidentais durante a era moderna. É dedicado à análise da vigilância e da punição, que se encontram em várias entidades estatais (hospitais, prisões e escolas). Foca documentos históricos franceses, mas as questões sobre as quais se debruça são relevantes para as sociedades contemporâneas. É uma obra seminal que teve grande influência em intelectuais, políticos, activistas sociais e artistas.Foucault muda a ideia habitualmente aceita de que a prisão é uma forma humanista de cumprir pena...” (publicado no Wikipédia,22/11/2012)

Com maior ênfase, por exemplo, a problemática da droga frequentemente relacionada  com comportamentos inadequados deve ser enfrentada do ponto de vista educacional e não policial, haja vista que a juventude esta morrendo pelo vício do crack e outras drogas, que até hoje não  se  resolveu com a repressão praticada historicamente, cujo resultado é desolador.

Portanto, estamos iniciando essa reflexão tendo como marca uma data que dentro de uma relação dialética, deve discutir a tese que é o atual modelo educacional, apreciar a antítese, ou seja, os questionamentos e negação deste, rumo a uma nova síntese pedagógica, que redundará inexoravelmente numa nova tese.

 Estamos sugerindo que no dia 25 de novembro de cada ano em memória e referência ao Professor José Vieira Carneiro que morreu após agressão em sala de aula, no dia 25 de novembro de 2001 na Escola  Estadual Palmira Graciotto, no Parque São Bernardo em São Bernardo do Campo, se constitua num marco dessa abjeta realidade.



Aldo Santos, Coordenador da APEOESP-SBC, Presidente da Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo.













História e Memória



"Professor morre após agressão"(texto de 2011)



Essa foi a manchete do jornal Diário do Grande ABC, publicada no caderno regional, em 25 de novembro de 2001. No subtítulo estava estampado: “Aluno fincou chaves na testa do educador, que passou por cirurgia, mas morreu 15 dias depois.”



Esse foi o ápice da violência nas escolas, que ceifou a vida do professor de história, José Vieira Carneiro, aos 44 anos de idade. Carneiro Lecionava na EE Palmira Gracioto, no Parque São Bernardo-SBC, deixando três filhos e uma viúva.



A agressão aconteceu no dia 09 de novembro 2001, por volta das 19h40min numa das salas da referida unidade escolar. O Aluno foi identificado como: “A.,17”, conforme citação do jornal.



Segundo a imprensa, “o garoto estava brincando com o chaveiro e o professor pediu para que parasse. O garoto, então, partiu para cima dele e o atingiu na cabeça com as chaves”, disse um professor que não quis se identificar.



Em outra citação, a cunhada do professor mencionou: “Ele disse que o menino colocou as chaves entre os dedos e que deu um soco na testa dele”.



Ainda segunda a reportagem, a Diretoria de Ensino “recusou a comentar o assunto”.



Na ocasião, lembro-me que tentaram de toda forma abafar o caso para evitar a repercussão política negativa do acontecido.



Em 2001, num determinado domingo pela manhã, compareceram em minha casa o professor Carneiro e outro colega, Professor Resende, narrou os fatos, queixou-se de fortes dores de cabeça e estava muito preocupado com a situação.



Fiquei preocupado com a perfuração na testa do professor, além de estar com a cabeça um pouco inchada. Disse a ele que deveria urgentemente procurar o hospital do Servidor Público Estadual para reavaliar o caso.



Coloquei o mandato a disposição dele, inclusive o carro oficial para levá-lo ao hospital, o que foi feito por várias vezes. Três dias depois fui visitá-lo em sua casa e percebi que embora estivesse andando, ainda não havia melhorado.



Como auxiliar de enfermagem, percebi que o caso era sério e novamente disse que deveria solicitar sua internação no hospital para intensificar o tratamento.



Para a nossa tristeza e revolta, o mesmo veio a falecer, causando profunda indignação a categoria.



A dirigente de ensino da época era militante de carteirinha do PSDB, que além de incompetente, exalava prepotência e arrogância antipedagógica.



No dia do enterro do professor, fizemos o inusitado no cemitério das colinas em SBC, fixamos reportagens nos vidros do velório onde o corpo estava, além da panfletagem no próprio recinto. Na saída do corpo, num ato de ousadia, discursamos e denunciamos a perda do nosso companheiro; resultado do descaso para com a escola pública e os seus educadores.



O corpo foi levado para sua terra natal, no Estado do Ceará e o sindicato continuou sua ofensiva contra o abandono da rede pública e a violência sofrida pelos educadores em seu cotidiano.



De lá pra cá a violência continua em níveis diferenciados, com assédio moral, agressões verbais e físicas, frequentemente denunciadas em nossas subsedes.



Há dez anos essa tragédia se abateu em nossa rede, e até hoje pouco tem sido feito no sentido de melhorar a escola pública no Estado de São Paulo.



A nossa luta continua contra o baixo salário, o numero excessivo de alunos em sala de aula, a política excludente da meritocracia e a violência nas escolas.



A nossa resistência tem se destacado e dirigentes e ditadores tem perecido ao longo de nossa trajetória, tanto em nível estadual, quanto em nível regional. Esperamos que haja maior empenho da justiça em relação a esse e outros tantos casos que continuam desafiando a lógica do ato de educar.



De nossa parte, continuaremos atuando no sentido de restabelecer a verdadeira escola pública, laica e de qualidade para todos os filhos e filhas da classe trabalhadora.



Educar e resistir sempre é preciso!!!.





Aldo Santos, coordenador da APEOESP-SBC presidente da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo, membro do Coletivo Nacional de Filosofia, coordenador da corrente política TLS.


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