sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Moção de Repúdio ao racismo na Câmara dos Vereadores de Santo André e a apatia e omissão do Vereador José Araújo...


  Comitê Regional Unificado Contra os Aumentos das Passagens de Ônibus no ABC.

Moção de Repúdio ao racismo na Câmara dos Vereadores de Santo André e a apatia e omissão do Vereador José Araújo, e dos demais vereadores, que não se pronunciaram publicamente sobre o ocorrido.

No mês da Consciência Negra, Novembro, mês escolhido por ser a data da morte de Zumbi dos Palmares, é uma data para lembrar as negras e negros que resistiram à escravidão. Um mês de reflexão sobre a inserção de negros no mercado de trabalho, sua participação na sociedade, oportunidades, discriminação, muito diferente do dia 13 de maio (Lei Áurea 13/11/1988) onde se comemora “a abolição da escravatura pela benevolência branca”. Em Santo André, onde aconteceram atividades municipais em torno do tema, ocorreu uma exposição de trabalhadores negros e negras realizada na Prefeitura desta, em que Nádia Silva Caldeira estava como uma das fotografadas. Funcionária pública concursada, negra, recebeu como umas das respostas a sua foto, um xingamento racista de outra servidora. Nádia tratou de fazer um B.O contra a ofensa racista, e cobrou da Câmara dos Vereadores (Casa de Leis), que se posicionasse de forma a combater essa forma de comentar e retratar a população negra, maioria desse país. Porém, ainda que o ato racista tivesse ocorrido nos mês da Consciência Negra e na Câmara dos Vereadores, a maior ação que a Câmara poderia ter feito publicamente no mês da Consciência Negra, que era recriminar e combater o caso de racismo sofrido pela funcionária, não foi realizado. Nádia trabalha no gabinete do vereador José Araújo (PMDB), que não se posicionou a favor da trabalhadora, lavando suas mãos: “O assunto aconteceu entre as duas funcionárias, mas eu não estava presente, então não posso comentar”. A omissão do vereador José Araújo, e da Câmara dos Vereadores de Santo André nesse primeiro momento, retrata um compromisso histórico e velado com a elite branca andreense e com os interesses burgueses (capitalistas), compromisso esse que é a principal causa de atitudes covardes e racistas no mundo, como já denunciado pelo militante do movimento negro Malcom X: “Não há capitalismo sem racismo”.
Foram marcadas manifestações e em defesa da funcionária, e, como pauta maior, o combate ao racismo em toda sociedade, que anda firme e forte, haja vista, como exemplo do ABC, que negros são as maiores vítimas da violência na região, e conseqüentemente, em todo o país. Em todos os lugares que o negro está, não só não tem o direito á Cidade (população pobre de maioria negra é segregada em bairros afastados, além de o transporte público ser de alto custo), como não tem o direito á privacidade, pois é vigiado onde anda e nos estabelecimentos em que entra. Embora a escravidão tenha sido “abolida” há mais de 125 anos, há uma opressão dos negros e racismo velado na sociedade que devem ser identificados e rechaçados por todos, negros e não negros! O discurso alienador de que o racismo não existe, só contribui para a permanência, e até aumento, dessa opressão! O racismo e opressão velada contra os negros no Brasil são facilmente mostrados nos fatos:
Em relação à inserção dos negros no mercado de trabalho vemos que a taxa de desemprego é maior entre os negros do que não-negros e que a média salarial (dados dos anos 2011-2012) dos negros é de 36,1% menor do que a dos não-negros. Quando se trata de mulheres e negras essa diferença é ainda maior (duplo preconceito). O falso discurso de que essa diferença se dá única e exclusivamente pela diferença de escolaridade e formação, é prontamente desqualificada pelo estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que mostrou que um trabalhador negro com nível superior completo recebe na indústria da transformação, em média, R$ 17,39 por hora, enquanto um não negro chega a receber R$ 29,03 por hora, ou seja, 40,1% a menos, e que essa diferença se dá simplesmente por serem negros!
O tão democrático governo e seus governantes da Câmara de Santo André, que tentaram no mês de Novembro afirmar que não existe racismo no Brasil, não abriram sequer um inquérito, e apenas com a pressão do movimento negro e sociais, entraram com uma sindicância para apurar o caso de racismo no gabinete do vereador.
“O presidente da Câmara, Donizeti Pereira (PV), se reuniu, no dia 10/12/13 (5 dias depois dos protestos na Câmara dos Vereadores), com representantes do Movimento Negro e do Sindserv (Sindicato dos Servidores Públicos de Santo André) para comunicar a investigação do caso por vereadores e pela Administração da Casa. Entre as deliberações tiradas no encontro está a possível transferência da servidora Nádia para outro departamento, sem perder o acréscimo no salário. Nádia é concursada há 20 anos, mas atualmente exerce função gratificada no gabinete de Araujo e recebe por isso” (Fonte: Jornal ABCD Maior).
O Movimento Negro insistentemente pressionou a Câmara para que repudiasse o crime racial e que entrasse com ações práticas para o caso. A Câmara definiu alguns encaminhamentos e uma reunião dia 11 de Fevereiro de 2014. Mas só isso não é suficiente!

Donizete Pereira declarou que o Legislativo, bem como os parlamentares e funcionários, repudia qualquer tipo de descriminação, não só relacionada a questões de gênero, mas contra a homofobia e atos que venham denegrir a imagem crianças, idosos, deficientes físicos, dentre outros. “O que ocorreu recentemente na Câmara é um fato isolado e que está sendo averiguado por inquérito policial. Essa Casa também levará o caso adiante baseado no estatuo do servidor”, afirmou o presidente”. (Nota pública da Câmara dos Vereadores).

Esta afirmação demonstra que a Câmara de Santo André está longe de levar os crimes raciais a sério, além de que estão reproduzindo um analfabetismo político, pois, as dinâmicas da opressão se fazem diferente para cada grupo oprimido, não podendo estas, serem igualadas em um conjunto de uma mesma opressão, reproduzindo assim, as desigualdades na “igualdade”. Este “repúdio” a qualquer tipo de discriminação enfatiza a moral conservadora, politicamente correta, que não admite as contradições sociais, e assume um caráter pacifista alienante. Além disso, há mais outro erro que a Nota pública da Câmara comete: o uso da palavra denegrir como semelhante à depreciação. Esta palavra, usada comumente no linguajar popular, é rechaçada pelo movimento negro e utilizada para reflexões sobre o racismo velado. A palavra denegrir significa tornar negra a imagem. Como, então, este termo é usado como semelhante ao depreciar? Somente através do racismo, esta palavra adquire um sentido deturpado de sua característica original, que nada tem sentido com o depreciar.

Isso demonstra que a luta contra a opressão racial continua! Fazemos um chamado a todos que se solidarizam a lutar por uma sociedade mais livre, sem racismo e que negros e não negros possam conviver onde a condição humana seja respeitada! Por uma convivência de alteridade, sem qualquer forma de opressão! REPUDIAMOS o racismo na Câmara dos Vereadores de Santo André e a omissão e apatia do Vereador José Araújo que, assim como durante o protesto realizado no plenário da Câmara no dia 05/12/13, não compareceu na reunião entre os movimentos Negros, sindicato e vereadores para tratar do assunto, e dos demais vereadores que não se pronunciaram publicamente sobre o ocorrido.


20/12/2013
Comitê Regional Unificado Contra os Aumentos das Passagens de Ônibus no ABC




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