sábado, 18 de janeiro de 2014

https://fbstatic-a.akamaihd.net/rsrc.php/v2/yb/r/GsNJNwuI-UM.gifO CAMINHAR DA JUVENTUDE DE ESQUERDA ALEMÃ NA ATUALIDADE.

Lucas Becker
 
Companheiros, o companheiro Aldo tinha me pedido pra escrever um texto sobre a situação da esquerda na Europa, escrevi um documento interessante sobre a questão da juventude da esquerda alemã, peço que acrescentem os pontos de pontuação que faltarem porque estou usando um teclado sem acentos e utilizem o texto da forma que julgarem adequado, um grande abs.

 Desde que cheguei a cerca de 6 meses na Alemanha, sinto me frustrado por não conseguir propor uma análise de conjuntura que seja compatível com a realidade da juventude de esquerda que aqui encontrei.

As condições históricas e culturais aqui colocadas se deram de uma forma tão distinta das encontradas no Brasil e na América Latina num geral, que toda minha noção de organização da esquerda obtida após anos na luta no movimento estudantil brasileiro teve de ser revista de ponta cabeça. As diferenças iniciam-se no campo prático e estrutural, onde não se há grandes preocupações por parte dos coletivos de juventude de esquerda alemães em construir e retirar sua maior base do movimento estudantil, logica essa que é a razão de existência da maioria dos coletivos de juventude brasileiros, ate o campo ideológico onde ao contrario da esquerda Brasileira que todos vêm com bons olhos às figuras e obras de Marx, Engels, Lenin, não existe uma linha de ideias comum entre os membros dos coletivos de juventude de maior expressão na Alemanha, ao passo que eles se intitulam apenas como anticapitalistas e antifascistas, não dando nenhuma orientação teórica e ideológica para seus militantes que vá alem disso.

 A educação na Alemanha é bastante setorizada de tal forma que existem escolas de ensino médio distintas, escolas para trabalho ou escolas técnicas, e escolas que possibilitam aos alunos a entrada num curso superior. Quem opta por uma formação técnica terá um ensino médio com parte das aulas teóricas e outra parte prática, ao fim do curso o estudante adquiriu uma profissão e não terá acesso a universidade.

 O ensino é publico e de excelente qualidade, a seleção para as universidades se dão por notas obtidas em exames finais aplicadas nas escolas de ensino médio para educação superior como critério único de seleção, ao passo que não existe vestibular. Graças a esse diferente sistema de ensino, os cursos técnicos não perdem sua importância, e a universidade mantém seu caráter puramente cientifico não se tornando tecnocrata, além de impedir a formação de centros universitários privados de péssima qualidade feitos exclusivamente para o aluno obter um pseudo diploma com intuito de auxiliá-lo na busca por um emprego, como vem acontecendo no Brasil. Esse tipo de sistema de ensino da um enfoque completamente diferente de como deve ser organizada a juventude por parte da esquerda, a começar que por mais que nem todos os jovens entrarão numa universidade, a juventude ainda assim se vê contemplada por essa realidade, pois as diferenças salariais entre empregos técnicos e universitários não são absurdas, pode-se viver confortavelmente com um emprego técnico e dependendo da situação com até mais regalias que um emprego universitário, logo, não existe a luta primaria do Brasil pelo acesso a educação.

 Paralelamente a isso, bandeiras históricas do movimento estudantil brasileiro como o passe livre estudantil universitário, moradia estudantil e auxilio financeiro (bolsa em auxilio a manutenção do estudante de renda media e baixa na universidade), são asseguradas aos estudantes universitários alemães.
O passe livre universitário se da de uma forma tal que o estudante universitário pode utilizar todos os transportes públicos do estado em que se encontra sua universidade, o que conta todos os trens intermunicipais, metros, bondes e ônibus. Dessa forma para abranger toda a juventude, a esquerda alemã não se constrói no movimento estudantil, mas sim num movimento de caráter civil, em fóruns municipais onde os problemas da juventude de uma dada localidade são pautados e discutidos.

 Durante os anos de socialismo real soviético, toda população da Alemanha Oriental socialista possuía uma emprego, o direito universal ao trabalho era garantido na constituição, não existiam problemas de fome e pobreza crônica, analfabetismo e falta de água potável, como se vê nas partes mais pobres e marginalizadas do mundo capitalista, contanto, houve falhas graves no planejamento econômico e político do socialismo, os empregos não eram bem divididos ao passo que muitos faziam o trabalho que uma pessoa sozinha poderia fazer as fugas do oriente para o ocidente eram constantes e se davam pela mesma razão dos atuais dissidentes cubanos.
 Na Alemanha capitalista era possível ganhar com uma formação universitária e carreira esportiva diversas vezes mais que no socialismo, além da repressão do estado por conta da conjuntura da guerra fria aos contra revolucionários, gerava relativo descontentamento na população. Quando a população do oriente pensava no capitalismo, nunca vinha a mente a imagem da África miserável, ou das ditaduras truculentas da América Latina, das Favelas e da fome, mas sim uma Europa Ocidental rica, com uma social democracia estável e uma América do Norte das oportunidades forjada no milagre do credito livre e do empreendedorismo. Assim que ocorreu o processo de unificação, estava mais do que claro para a população da Alemanha Oriental que o capitalismo social democrata só pode ser superior ao socialismo da repressão aos “contra revolucionários” e da ineficiência econômica, imagens e ideias do antigo socialismo foram altamente difamadas pela mídia e colocadas na vala comum de ditadura e autoritarismo. Tal propaganda teve um grande impacto enorme nas gerações  nascida no final dos anos 80 e início dos anos 90 que hoje compõem a juventude alemã.

 O capitalismo trouxe suas mazelas desde o primeiro dia da unificação para o lado oriental, empresas foram fechadas diversas pessoas perderam seus empregos, vilas e pequenas cidades sofriam de estagnação econômica e havia um constante fluxo migratório para o ocidente, tais problemas se dão em um certo grau até os dias atuais. Para enfrentar os problemas sociais colocados pelo capitalismo, grupos de diversas tendências e críticos do capital se juntaram num novo partido de tendências, intitulado “Die Linke – A Esquerda”. Como um típico partido de tendências, a linha política do partido é bastante diversificada nos diferentes coletivos que constroem o partido, contanto a maior discrepância de pensamentos se da em especial nas diferentes gerações do partido. As maiores partes dos militantes mais antigos ainda utilizam uma linha de pensamento marxista para pautar suas ações, e em alguns casos tem uma espécie de nostalgia dos tempos do socialismo da Alemanha Oriental, já a juventude pensa de maneira completamente distinta.

A juventude que entrou no partido, o buscou para dar solução aos problemas sociais colocados na Alemanha, contanto por conta de ter crescido com a propaganda de que o socialismo é sinônimo de ditadura, ela se recusa a pautar sua política numa linha marxista, se intitulando como “Nova Esquerda”, buscando apenas enfrentar os problemas sociais colocados com reformas do atual sistema e não com uma radical mudança na ordem econômica.
Basicamente a juventude de esquerda alemã acredita que a solução dos problemas do capitalismo é uma social democracia mais efetiva pois essa que esta colocada não é suficientemente de esquerda e possibilita problemas sociais.
A crise ideológica da esquerda Brasileira esta na busca de qual fora o momento que a União Soviética deixara de servir de fato a classe operaria, alguns dizem que os problemas começaram com a morte de Lênin, e o Ascenso de Stalin, sendo que esses muitas vezes se intitulam Trotkystas, outros dizem que os problemas vieram após Stalin e são Stalinistas, mas uma coisa todos concordam que  a linha revolucionaria até Lênin fora correta, já a “nova esquerda” alemã, considera todas essas formas de pensamentos arcaicas e excessivamente tradicionalistas, ao passo que para um brasileiro de esquerda passei por algumas situações bastante cômicas , ao perguntar uma vez para um companheiro sobre a atuação dos Trotkystas na Alemanha, ele me respondeu: “Trotkystas quase não existem aqui e os que existem não conseguem atuar conosco da nova esquerda, pois são muito tradicionais”, grupos esses que no Brasil são considerados como a esquerda mais liberal e anti tradicionalista existente no pais. A falta da analise marxista e o enfrentamento apenas de problemas pontuais leva a erros de analise de conjuntura sérios, amplamente sanados pela esquerda Brasileira, como por exemplo, a defesa do estado de Israel.

 A juventude de esquerda alemã considera que a construção do estado de Israel é justa devido à discriminação sofrida pelo povo judeu na segunda guerra mundial, contanto isso no Brasil é considerado um absurdo pela esquerda, pois com uma simples análise marxista compreende-se que o que houve com os judeus na segunda guerra mundial foi fruto de um nacionalismo exacerbado gerado por um estado fascista, o nacionalismo, que  é um grande inimigo do povo, pois todos os povos devem ser um, a questão deve ser resolvida garantido a liberdade religiosa e a proibição a qualquer tipo de perseguição as minorias étnicas nas nações , e não combatendo nacionalismo radical com nacionalismo radical, criando o estado de Israel e segregando famílias palestinas que vivem a anos naquelas regiões, obrigando-as a abandonarem suas terras, casas e pertences.

 A contra parte da ultra direita, grupos neonazistas, também buscam se projetar tentando dar uma razão e solução aos problemas sociais ainda persistentes na Alemanha, sempre apontando que o problema esta na imigração estrangeira que rouba os empregos da população local, mesmo quando a cidade ou vila de suas atuações não possuem número significativo de moradores estrangeiros. De uma maneira evidente a juventude de esquerda propõem diversas ações de repúdio a esses grupos, como bloqueios, que se caracterizam como um cordão humano feito por militantes de esquerda e membros da população local, feitos ao entorno de manifestantes neonazistas, para impedir seus avanços.
 O grande erro, porém é que devido ao estado de bem estar e que os problemas sociais da população não são tão aparentes a primeira vista, a juventude de esquerda muitas vezes deixa de propor ações em combate aos problemas sociais para apenas se focar em atos contra os grupos neofascistas, o que caracteriza um grande erro de abandono das bandeiras essenciais que garante o crescimento da base e sucesso na luta para um investimento numa política de contra propaganda que apenas auxilia o crescimento da base adversária.

 A social democracia alemã trouxe de  fato inúmeros benefícios a população alemã, o que promoveu uma maior consciência do povo quanto a seus direitos. Sistema social, o que no Brasil chamamos de bolsa Família, é considerado por aqui como um direito de todo o desempregado e não um favor do governo como no Brasil, além de diversas outras conquistas que ainda temos que conquistar no Brasil e que a população as toma como direitos fundamentais, contanto é evidente com o retrato da crise dos outros países europeus e dos problemas sociais que a Alemanha ainda enfrenta, o capitalismo promove crises que abalam qualquer sistema social e a superação para essas crises constantes e cíclicas é com o fim da especulação do capital, o fim do capitalismo e a construção da sociedade socialista.

Os companheiros da “nova esquerda alemã” pecam em não observar que o erro do passado não foi a revolução e a ruptura de sistema, mas sim uma questão conjuntural, erros econômicos  que deverão ser corrigidos na nossa próxima tentativa de tomar o poder, ao optar por não romper com a ordem a nova esquerda não se caracteriza como nova, mas sim com o que há de mais velho no movimento socialista, o revisionismo social democrata.

 Dresden, 18.01.2014 Lucas Becker

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