sábado, 17 de maio de 2014

SEPÉ TIARAJU E A RESISTÊNCIA INDÍGENA

SEPÉ TIARAJU E A RESISTÊNCIA  INDÍGENA

A Editora Expressão popular vem publicando inúmeras obras como contra ponto a história oficial, exaltando figuras que estão no anonimato ou circunscrita a memória popular.
Liderança inconteste dos Índios Guaranis, José Tiaraju foi eleito prefeito de São Miguel e sua resistência se traduz no celebre declaração: “Essa terra tem dono”. Esse grande movimento tem como pano de fundo a assinatura do tratado de Madri em 1750, onde os reis de Portugal e Espanha na prática obrigam cerca de 50 mil "índios" a abandonarem suas cidades, suas terras e o culto a ancestralidade dos nativos. Esse tratado aparentemente buscava corrigir as fronteiras na America meridional.
Todos os índios dos sete povos teriam que abandonar suas cidades rumo a margem direita do rio Uruguai, hoje território argentino. Os portugueses ficariam com o legado material e simbólico das conquistas dos guaranis e a Espanha, com a colônia de sacramento.  Contrário a essa negociação, Sepe lidera a resistência e é morto em 7 de fevereiro de 1756, com mais 1500 mártires de Caiboaté.
Para Alcy José Vargas Cheuiche, autor do livro “Sepé-Romance dos sete povos das Missões” o educador deve ensinar aos alunos que “Quando os Portugueses chegaram ao Brasil, não houve nenhum descobrimento. Juntando Portugal e Espanha, havia menos portugueses e espanhóis nos seus territórios do que tupis-guaranis e outros índios em território brasileiro. Os antropólogos discutem, mas viviam entre 5 e 10 milhões de seres humanos em nosso atual território”.[i]
Embora os invasores possuíssem maior  tecnologia no combate aos nativos, o primeiro canhão  feito pelos irmãos jesuítas e os índios foi determinante na batalha de Mbororé em 1641, onde colocaram pra correr  os temidos  bandeirantes.
Autores falam numa república guarani que geograficamente ficava nas terras do Rio Grande do Sul, território Argentino atual e do Paraguai, totalizando 33 cidades que tentaram implantar uma espécie de sistema socialista cristão.
Grande parte da nossa verdadeira história  ainda está adormecida,devendo ser recuperada pela história oral   e pelo levantamento de  dados  ainda marginalizados pelos detentores e proprietários das empresas  reveladoras e mantenedoras da  história oficial em nosso país.A verdadeira história  dos escravizados do período da invasão,da colonização, do império e da  república,  deve ser enaltecida por historiadores compromissados com a história da maioria nesses vários períodos.
É inadmissível que os donos do Brasil sejam delimitados a comemoração de um dia ao ano, no dia 19 de abril, e o restante do ano celebrado pelos invasores e dominantes. Portanto, é fundamental a afirmação de que “essa terra tem dono” e que instituamos o dia 7 de fevereiro como dia da resistência indígena em homenagem e memória ao dia em que foi assassinado Sepé Tiaraju. A recuperação da história é fundamental e figura como Sepé Tiaraju dignifica e demonstra que a dizimação dos índios foi marcada por grandes lutas e resistências no passado e nos dias atuais. Nosso empenho é para que de fato essa terra um dia seja devolvida aos verdadeiros donos e que os saqueadores, estupradores e assassinos  prestem contas ao invencível tribunal da classe trabalhadora.Perseguimos a “pátria mãe”, pois a história e a luta não tem barreiras nem limites geográficos e que  a experiência “comunista  dos Guaranis” continue  embalando sonhos de um novo mundo, livre dos opressores e da opressão  do capital.

Reescrever nossa história a partir do índio, negro e operário é preciso!

Aldo Santos, Presidente da Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo e do Brasil, Membro da Executiva Nacional da Intersindical e militante do Psol.




[i] Sepé Tiaraju/comitê do ano de Sepé Tiaraju (org.).-1.ed.—São Paulo:expressão popular,2005.104p.

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